sexta-feira, março 02, 2007

O RESCALDO

Na campanha para este referendo estive activamente na defesa do Não, integrado nas actividades que o Movimento Mais Aborto Não! desenvolveu no concelho de Torres Vedras. Com todo o respeito pelas mais diversas opiniões, defendi as minhas ideias de protecção da vida.
Este artigo não é escrito em nome do Movimento, do qual não fui mandatário, mas a título pessoal, como rescaldo da participação que decidi ter.
Os resultados do referendo ditaram a vitória do Sim. Olhando apenas para os resultados de Torres Vedras temos a vitória do Sim com 60,63%, o Não com 39,37% e um nível de abstenção de 56,37%.
A maioria dos torrienses votantes está claramente a favor do sim. Mas para tornar a análise mais simples, podemos partir os resultados. Consideremos um universo de 10 torrienses:
- 5,6 decidiram não ir votar;
- 2,6 decidiu votar no Sim;
- 1,7 optou pelo Não;
- 0,1 foi votar, mas decidiu deixar em branco ou tornar o seu voto nulo.
Não é minha intenção, com esta análise, tornar o resultado menos “pesado”. O SIM GANHOU! Mas a análise permite verificar que a divisão de opiniões em relação a este assunto ainda é grande.
Agora muito se irá discutir em relação ao facto do referendo não ter sido vinculativo e na possibilidade do Parlamento alterar a lei. Veremos o que ainda aí virá.
Face aos resultados há duas possíveis reacções dos defensores do Não:
1. “Amuar” e dizer: “Foi assim que quiseram, não foi? Então agora não venham dizer que não avisámos!”;
2. Olhar para os números com algum grau de optimismo e preparar as baterias porque a luta é mais feroz e dura a partir de agora.
Pessoalmente incluo-me no segundo grupo. Este referendo permitiu-me perceber, claramente, que em Torres existem 10.227 pessoas que querem defender a vida.
A defesa da Vida não se esgota, nem se deve esgotar, numa votação, num referendo. A derrota no referendo foi uma etapa que se teve de passar, mas ao mesmo tempo um período que permitiu reunir pessoas que partilham as mesmas ideias, dar coragem às pessoas de as expressar publicamente e perceber que não estamos sozinhos na defesa da Vida.
Há que aproveitar todas essas pessoas e continuar a luta! Agora mais difícil, com a mais que certa aprovação de uma lei mais permissiva, que fará com que facilmente seja possível abdicar de uma vida.
Mas foi isso que a maioria decidiu, e é com isso que teremos de viver!
Foi interessante encontrar nos argumentos do Sim e do Não um ponto de consenso: o aborto é uma coisa má que não deverá acontecer. E a principal razão do Sim era dar condições às mulheres para decidirem e para o fazerem sem ser clandestinamente. Os portugueses disseram que sim!
O desafio que agora lanço é outro. Não apenas a todos aqueles que votaram Não, mas também a todos aqueles que votaram Sim e que acham que o aborto é um mal: juntemo-nos em defesa da Vida. O Sim ganhou esta batalha e deu, segundo a sua opinião, liberdade e condições à mulher. Mas acima de tudo vamos fazer com que essas mulheres optem por ter o filho, vamos criar condições para as ajudar e apoiar.
É uma questão de bom senso e de amor pelo próximo que nos deve levar a unir esforços para ajudar aqueles que estão a precisar.
Os defensores do Não podem ter ficado com a consciência tranquila porque fizeram o que estava ao seu alcance para evitar a lei e o povo decidiu o contrário, mas a atitude não pode nem deve ser essa.
Tal como a responsabilidade das pessoas que estiveram activas do lado do Sim e que votaram Sim não deve terminar com uma vitória no referendo. Há que lutar para ajudar as mulheres a evitar aquilo que todos consideram um mal.
O resultado deste referendo abriu um novo caminho que teremos percorrer. Um caminho diferente daquele que eu defendo, mas um caminho que foi escolhido e com o qual viveremos. Cruzar os braços e amuar não é a solução e, desta forma, não estaremos a contribuir para a Vida.
Vamos aproveitar os contactos que foram estabelecidos e a vontade de mais de 10.000 pessoas para continuar a luta pela vida, com as “armas” que estiverem ao nosso alcance.

João Casimiro, in Badaladas de 23-02-2007

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